terça-feira, 9 de março de 2010

Juiz de Fora ganha mais cinco salas de cinema

iJuiz de Fora terá mais cinco salas de projeção que a rede de cinema UCI Kinoplex, em parceria com o Grupo Severiano Ribeiro, vai inaugurar no Independência Shopping. A previsão da assessoria de comunicação da rede UCI é de que o espaço esteja em funcionamento a partir de abril com 1.163 novas poltronas, ampliando em cerca de 70% o número disponível hoje nas nove salas existentes, que é de 1.571. Apesar de a empresa não informar detalhes sobre programação e serviços, a expectativa dos cinéfilos é de que o aumento de mais de 50% no número de salas diminua a demora da chegada, ou mesmo a ausência, de grandes sucessos na cidade, “ou, quem sabe, mantenha longas bem-sucedidos por mais tempo em cartaz”, como espera a produtora de cinema Lilian Maranhão.

Com investimento de cerca de R$ 1 milhão por sala, a UCI promete trazer para a cidade salas em formato stadium (estilo arquibancada), cadeiras love seat (assentos duplos, reclináveis, em que o apoio central para o braço pode ser levantado), 21 espaços reservados para deficientes físicos, som dolby digital (com canais de som separados) e bonbonnière. “A demanda por novos espaços é grande, mas por aqueles melhor equipados é maior ainda”, reclama o professor de cinema e membro do Luzes da Cidade, Nilson Alvarenga, reforçando a idéia defendida pelo cineasta Marcos Pimentel, no que diz respeito à formação de um novo público. “Sempre que um espaço é criado, nasce uma leva de freqüentadores.”

Em entrevista por e-mail, a diretora de marketing da UCI, Monica Portella, informou que as salas 1, 2, 3, 4 e 5 terão 165, 249, 335, 249 e 165 lugares, respectivamente, mas não deu detalhes sobre as estratégias para ocupação das salas. Segundo ela, a empresa tem interesse em promover descontos e conhecer o mercado da cidade, o que será feito após a inauguração do cinema. “Com o tempo, serão percebidos o perfil, os desejos e as necessidades do público, e vamos moldando a programação a estes usuários”, conclui.

A falta de informação provoca especulação entre os futuros freqüentadores. O jornalista Luís Felipe Salgado, 25 anos, espera que o preço dos bilhetes acompanhe a realidade de Juiz de Fora, onde o custo de uma entrada varia entre R$ 6 e R$ 12. Uma boa notícia fica por conta dos horários lternativos. Para atender a parcela da população impossibilitada de assistir aos filmes nas telonas em horários convencionais, a diretoria de Marketing anuncia sessões matinais aos sábados e domingos, com início ao meio-dia, e saideiras às sextas e aos sábados, a partir de meia-noite.

Mercado local se prepara para a nova realidade
Das 121 salas que a UCI tem distribuídas em 11 espaços pelo Brasil, 18 estão no New York City Center, na Barra da Tijuca, no Rio. A unidade tem bilheteria com descontos semanais, a primeira sala com projeção digital do país e 4.612 poltronas - quase o triplo de todas as salas de Juiz de Fora juntas. A Moviecom, que é a primeira em número de cinemas na cidade atualmente (são cinco no Alameda), embora gerencie 91 salas de exibição em topo país, 30 salas a menos que a UCI, não demonstra preocupação frente ao poder de barganha do concorrente. “Temos boa infra-estrutura, capaz de concorrer de igual para igual com eles”, destaca o gerente comercial, Gustavo Ballarin, revelando que o grupo atinge 21 centros de entretenimento, dez a mais que a UCI. Fernando Costa, proprietário da empresa que responde pelo DuoCine Santa Cruz, não tem a mesma tranqüilidade. “A UCI é uma empresa forte, que pode dificultar nosso acesso aos lançamentos. Provavelmente, vamos comer do bolo quando este estiver bem devorado”, dispara Costa, adiantando que uma das estratégias da empresa será a manutenção das cópias dubladas.

Se o Cinearte Palace vai fechar suas portas, não se sabe, mas o vácuo que seria deixado na grade de lançamentos de filmes de arte, caso as duas salas parem de funcionar, não poderia ser preenchido pela UCI, na opinião do professor e também membro do Luzes da Cidade, Carlos Pernisa (Junito) Jr.. O argumento é sustentado pela localização do novo cinema, que, por estar instalado em um shopping, não seria tão próximo do vaivém urbano. “É diferente quando você passa pela rua e resolve entrar para assistir a um filme.” Sobre a colocação do professor, a UCI deixa claro sua política. “Filmes nacionais são sempre exibidos, e filmes de arte são colocados e retirados da programação de acordo com a demanda percebida a partir do funcionamento das salas através do desejo manifestado pelo público”, pontua Monica Portella.

Luís Felipe Salgado espera que, por ser considerada forte, a UCI fomente o aumento de ofertas na cidade. De olho nas produções nacionais e alternativas, o jornalista almeja ainda que a rede fique atenta aos produtos que não são lançados com garantia de sucesso no país. “Espero poder comprar bilhetes para sucessos nacionais que são jogados no mercado com poucas cópias, como ocorreu com ‘2 filhos de Francisco’, disponível somente em 40 reproduções.”

Na contramão, o empresário José Eduardo Arcuri, 57, acredita que, apesar do aumento no número de salas e, conseqüentemente, de cadeiras, a grade de programação do Independência Shopping acompanhará a do grupo Moviecom, no Alameda. Ele, que já pegou a estrada para o Rio muitas vezes atrás de películas que não estiveram em cartaz por aqui, aposta “em mais um movimento pró ‘cinemão americano’”.

Um debate que se arrasta
A demora e a ausência de sucessos de bilheteria em Juiz de Fora são uma realidade antiga, mas que se intensificou em 2007. Em agosto, a Tribuna fez um levantamento dos principais longas que chegaram atrasados ou ficaram de fora das telonas locais. “Saneamento básico”, “O cheiro do ralo”, “Babel”, “Déjà vu”, “A rainha” e “Dream girls - Em busca do sonho” chegaram por aqui 30 dias depois de estrear nas principais salas do país. Já “Apocalypto” e “Borat” superaram um mês de atraso, ficando à frente de “O último rei da Escócia” e “O bom pastor”, que só entraram em cartaz 90 dias depois, enquanto que os estrangeiros “Pecados íntimos” e “Cartas de Iwo Jima” e os nacionais “Cão sem dono” e “500 almas” nem deram o ar da graça.

A Tribuna listou 20 estréias de 2008 que ainda não foram projetadas em Juiz de Fora, dos quais sete estavam entre os indicados ao Oscar, como “Juno”, “Sangue negro” e “Onde os fracos não têm vez”, eleito melhor filme. Outros filmes, como “Sweeney Todd”, “Os indomáveis” e “O caçador de pipas” chegaram com atraso de mais de 15 dias.

Aproveitando a deixa da discussão, Carlos Pernisa (Junito) Jr. e Nilson Alvarenga insistem que, independentemente da quantidade de salas, o motivo do atraso seria o reduzido número de cópias disponibilizadas pelas distribuidoras. “Juiz de Fora está no que chamamos de terceiro nível, atrás do trio Rio, São Paulo e Belo Horizonte, que vem seguido de outras capitais, como Salvador, Porto Alegre e Fortaleza”, explica Junito, assinalando ainda que, conforme o estado de deterioração da película, a cópia pode ou não parar de circular. “Eu já vi filmes em péssimo estado, e esses não podem rodar mais.” Alvarenga, no entanto, vai além e sugere uma parceria entre os grupos de cinema da cidade para efetuarem um rodízio de filmes, iniciativa que, segundo ele, atenderia os diversos públicos e reduziria o problema provocado pela quantidade insuficiente de reproduções. O que se pode dizer é que as dúvidas e a expectativa só serão respondidas quando as luzes da UCI Kinoplex em Juiz de Fora estiverem acesas.

(Fonte: Jornal Tribuna de Minas - 10-03-2008)